Quem disse adeus?

Ela disse adeus, ou melhor, ele disse, para logo depois desligar o telefone e se olhar no espelho, fitando os próprios olhos que, atordoados ainda com o que fora dito minutos atrás, teimavam em não acreditar que tudo havia acabado assim, daquela maneira fria e inverossímil. Uma frase, uma única frase escrita altas horas da noite, frutificou em uma ligação, em uma discussão, e um dia inteiro de bate-boca e por fim na separação.

As palavras duras que foram ditas foram cuspidas, mas com a raiva, que era mais a emoção do momento do que com o coração. Não havia sentimento maior do que a angústia daquele que “ir não ir” que se sucedia com os dias de conversas. Ah, longas conversas, em praças, praias, corredores, telefones e meios menos nobres e digitais. Algumas vezes acompanhadas de uma coca, outras de um chá, mas sempre com a companhia oposta que se punha a consolar, cuidar e acariciar aquele bem que ali estava oprimido pela vida desdenhosa que lhe havia sido decretada até então.

As águas de Baia por várias vezes assistiram ao ir e vir daquelas duas almas, que perdidas em seus desejos se viam em voltas a decisões tão pouco nobres, que contrastavam com sentimentos tão auspiciosos. No por do sol embaixo do disco, onde se via a distância cidade oposta, uma noção que por vezes refletia a direção do coração de ambos, ambos puderam apaixonadamente estar sem qualquer outra preocupação que não fosse o estar. Fotos! Clicks Clicks alucinados, que imortalizariam aqueles momentos em imagens, para posteriormente serem esquecidas como sombras de um tempo que já se fora. Eram como turistas na sua própria cidade, turistas em suas próprias almas. Turistas que perdidos procuravam captura ao máximo o que pudessem um do outro, antes que nada mais sobrasse e as areias dos tempos os guardassem em memórias tristes e findas.

Alice viu o coelho branco e correu atrás para alcançá-lo. O coelho, porém fugiu de Alice, que desolada se pôs a chorar. No cinema o coelho a olhou, então se virou e correu para a irmã de Alice, deixando a com sua gata no colo a lhe afagar os orelhas e os cílios, na esperança que não apenas o rabo e as orelhas mudassem, mas toda figura também o fizesse. A lagarta que pergunta “quem é você?” responde pelos amantes que sozinhos perguntam “quem éramos nós”?

Conforme os dias se passam e o verão finda, as lembranças se anuviam e a certeza cresce dentro do peito de cada um, trazendo a certeza que nunca mais se verão, ou se o fizeram nunca mais estarão. Destino, volúvel seguidor cego de seus míticos labirintos, poderia a ambos enganar, proporcionando um derradeiro encontro, porém com essa esperança devem eles seguir? Ainda como os jogos, após 4 anos tudo se resolvesse e eles voltassem, seria o certo esperar que fossem os 4 anos, e que esses começassem agora?

Não importa, se ela ou ele disse adeus, eles disseram e cantaram com o maestro, sentados à sombra na praia da boa viagem, olhando a distância, torcendo para que o tempo lhes provesse sabedoria e lhes fossem a bússola dos dias vindouros, quando não mais a raiva, mas as virtudes lhe falassem pelo coração.



Recanto das Letras: T2099525
Safe Creative: 1002215568510

Sem comentários: