To be or not to be?

A célebre frase da peça Hamlet, de William Shakespeare, “To be or not to be, that's the question” é bem conhecida entre nós. A tradução desta “ser ou não ser, eis a questão” é bem difundida e aceita entre os críticos, porém penso que em determinados momentos perdemos um tanto da profundidade do questionamento proposto pelo príncipe dinamarquês ao aceitarmos essa visão.

Gostaria de recordar o Novum Organum de Sir Francis Bacon (sem querer incentivar a polêmicas sobre a identidade real de Bacon- Shakespeare) no qual o autor comenta sobre os quatro ídolos que bloqueiam a mente humana, sendo que dentre esses há o ídolo do foro, que faz com que os homens se percam em suas resoluções, inebriados pelo seu belo falar e discursar. Não há ação, apenas debate por cima de debates, em discussões acaloradas, sem qualquer fim.

Podemos consultar qualquer dicionário inglês-português, no caso agora eu preferi utilizar o do próprio Google, onde encontraremos como significados para o verbo to be: ser, estar, existir, haver, ter de e ficar. Assim podemos repensar o nosso “To be or not to be, that's the question” não apenas como “ser ou não ser, eis a questão”, mas também como “estar ou não estar, eis a questão”, ou “existir ou não existir, eis a questão”, “há ou não há, eis a questão” ou “ter ou não ter, eis a questão”.

Em uma sociedade cada vez mais plástica como a nossa, deixamos que o ídolo do foro nos arraste cada vez mais por entre seus labirintos de gentilezas. Na contra mão da certeza, trocamos a profundidade e o conhecimento por respostas rápidas que sirvam para resolver da maneira mais rápida uma determinada questão, sem sequer ponderarmos se aquela é a melhor solução. Nos comprometemos de boca para como ideais que não respondem aos nossos anseios, em troca apenas de mais elogios. Se somos não estamos, não existimos nem temos, já se não somos perdemos de vista as possibilidades que os demais deixam, passando a enxergar apenas a ausência dos gracejos, com suas obtusidades falsas, feitas como sempre, da boca para fora.

O paraíso sofista impera no mundo, no sentido mais depreciativo do termo.

Mais do que nunca, acho que cabe a nós permitir que nosso príncipe se incline sobre a caveira, não do rei, mas do ídolo, e se questione: To be or not to be?

Códex Arquimedes


Conclui no início da semana a leitura do O Códex Arquimedes, livro escrito por William Noel, curador da seção de manuscritos do museu Waters, e Reviel Netz, professor da Universidade de Stanford. O livro trata do trabalho de recuperação de um palimpsesto arrebatado em um leilão por um comprador anônimo, em um leilão em 1999.

Explicando o que é um palimpsesto de forma resumida: é um livro feito a partir de um outro livro. Isso é, em determinados países ao invés do tradicional papiro, optou-se por utilizar pergaminho desenvolvido a partir de peles de animais. O motivo dessa opção poderia se dever a vários motivos, como durabilidade do material, falta de matéria prima para o papiro entre outras. Seria algo como hoje em dia optar entre usar papel manteiga ou papel vegetal. Acontecia que anos depois um determinado volume poderia perder seu interesse, assim os escribas desmontavam suas páginas, e através de determinados processos, sobrepunham as letras de um texto por de outro. O resultado era um novo livro, com um segundo livro, inacessível a olho nu, escondido em suas páginas.

Encontrar Palimpsestos da idade média é algo relativamente normal. O que aumentava o interesse nesse em especial, era o fato do mesmo esconder em suas páginas um dos poucos textos de Arquimedes que hoje se conhece. Até então, apesar dos tratados de Arquimedes serem citados e comentados em diversos momentos através da História, só havia chego aos dias de hoje o registro de 2 conjuntos de codex , que já desapareceram há mais de 400 anos! Como se não bastasse, os textos contidos no palimpsestos revelavam muito mais informações do as encontradas nas traduções existentes até então do codex A e B, de modo a alterar significantemente a história da matemática e da ciência.

O livro trata então da importância do Palimpsesto, o processo – erros e acertos – do processo de restauração (hoje disponível do sítio do projeto), a história, demonstração dos tratados encontrados, história do volume em si além do restante do conteúdo do palimpsesto, que inclui outros volumes além daqueles encontrados no texto de Arquimedes.

Enfim, para aqueles que são fascinados por História, Matemática ou Museologia o livro é um prato cheio.

Aqueles Dois

Esta em cartaz até o dia 28 de fevereiro, no Teatro II do CCBB, a peça Aqueles Dois. Baseada no conto homônimo do escrito Caio Fernando Abreu, o espetáculo é interpretado pela cia de Teatro Luna Lunera, de Minas Gerais. O conto original fora publicado pela primeira vez no livro Morangos Mofados em 1982, mas caso você não o conheça é possível encontra-lo na internet, em sítios como o releituras. Recomendo que leiam o conto após assistir a peça, eu pessoalmente fiz assim e aproveitei bem o espetáculo. Minha opinião geral sobre espetáculos é que quanto menos você souber de véspera, melhor. Minha amiga Ivy, que é fã do autor e obviamente já conhecia o texto, também adorou, então acredito que o conhecer o conto não prejudique a peça, ainda assim se alguém que pedir minha opinião eu iria sugerir não ler. *rs
Sobre a história, o autor diz que se trata de uma história de aparente mediocridade e repressão, passada em uma época qualquer recente, em uma grande cidade qualquer, com dois personagens que, apesar dos nomes poderiam ser duas pessoas quaisquer.

Num deserto de almas também desertas,
uma alma especial reconhece de imediato a outra


Gostei muito do espetáculo e recomendo a todos que aproveitem. A entrada custa meros R$10,00 (ou R$5,00 a meia), sendo encenada de quarta a domingo, as 19h30.

Pedra da Gávea

Na semana passada fui com meu amigo LaJaques subir a Pedra da Gávea, uma das trilhas mais famosas da cidade, pois afinal é o rosto do estampado na montanha um dos cartões postais da Barra da Tijuca. Sejam sinceros, quem da minha geração não se lembra de assistir Os Trapalhões Na Terra dos Monstros, quando Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, Angélica e o pessoal do Dominó acabam indo parar em uma terra perdida cuja a entrada era a Pedra da Gávea? *rs Mas então, a trilha para chegar até o topo é bem mais simples do que parece em um primeiro momento. A entrada é feita por um posto da Guarda Municipal no fim da Rua Sorimã, na Barrinha - no largo principal, onde fica o A Mineira, ao invés de subir o estrada do Joá, basta pegar a rua a esquerda e seguir como mostra no mapa abaixo: Na praça professor Velho da Silva fica uma entrada, como se fosse de um condomínio, porém o acesso é livre a todos. A rua entao segue bme íngreme morro acima, até chegar em um trecho de terra, digno dos melhores Rallys. Sério, nesse momento pensei que fosse furar um pneu ou arrebentar o cano de descarga do carro, por que era muito buraco, mas muito mesmo! Depois dessa provação você então chega a um estacionamento e a base da trilha. A partir dai são 800 metros de subida, em 1600 metros de extensão. Peço desculpas a quem venha a se sentir ofendido, mas sinceramente não consigo entender como alguém consegue se perder na Pedra da Gávea. Diferente de outra trilhas, como a Pedra Branca, a trilha da Pedra da Gávea é muito bem sinalizada. Diversas placas mostram o caminho no início do parque, e conforme avançamos na mata, as setas amarelas mostram o caminho para que sigamos até o topo, e algumas vermelhas ajudam aqueles que estão descendo de volta à base. Infelizmente não chegamos a cronometrar o tempo de subida, mas olhando no twitter - que graças a minha nerdisse acabei postando sobre o início e a chegada ao topo - vi que levamos umas 2 horas e meia. Embora, eu ache qu essa hora esteja errada, pois não chegamos a ficar 1 hora no topo, e pelo que eu me lembre iniciamos a descida por volta as 13h. Enfim, Eu chutaria umas 3 horas de subida e umas 2 de descida. Pesada? Sim, mas nada impossível. Ah sim... não poderia deixar de comentar sobre a carrasqueira, o pedaço mais famoso perigoso da trilha, que é um paredão na pedra onde é preciso literalmente escalar a rocha para continuar rumo ao topo, e onde qualquer descuido pode ser fatal. Ainda assim não chega a ser nada impossível de se transpassar. Abaixo eu deixo algumas fotos batidas durante a subida:

uma fonte no caminho
praia da Barra

vista da Lagoa da Barra
descansar é preciso

a temida carrasqueira
rumo ao Imprador
visão do topo
zona sul? aaaahhh tô de férias...
“Quanto mais se quer erguer para as alturas e para a luz,
mais vigorosamente enterra as suas raízes para baixo,
para o tenebroso e profundo: para o mal.”
- Nietzsche

O Amor nos Tempos do Cólera


Recebido como presente em 2009 e lido em menos de duas semanas em 2010, O Amor nos Tempos do Cólera me foi dado por uma doce amiga como presente, e que presente! Esse livro se tornou a minha apresentação a obra do conhecido Gabriel García Marques, famoso escrito Colombiano, vencedor do prêmio Nobel de literatura em 1982, aposentado desde de abril de 2009, quando resolveu se dedicar a sua atual luta contra o câncer.
Pois bem, o livro é passado na região caribenha da Colômbia, em uma época não especificada, mas aparentemente situado entre finais do século XIX início do século XX. Para nós – ao menos para mim – que não conheço a Colômbia pessoalmente, foi uma bela oportunidade de caminhar pelas ruas de algumas cidades, e ver algumas de suas pessoas, pois nesse ponto o colombiano se assemelha ao nosso Machado de Assis, e suas descrições. Acho que há um pouco de Nelson Rodrigues também na obra, porém sem as perversões. Para que vocês entendam, uma passagem do qual gostei e que ilustra bem a comparação:
Bem... acabei fazer uma lida an passant pelo livro e não encontrei a passagem, nem qualquer outra que faça sentido fora do contexto, por isso ficarei devendo o exemplo (*rs).
Amor nos Tempos do Cólera é como o nome diz, uma história de amor, e ainda assim um romance que retrata uma época, onde os valores do passado se fazem presentes em um mundo que caminha e avança tecnologicamente, rumo a um futuro de guerras e revoluções que os povos daquela época sequer suspeitavam que estaria por vir.
O livro recebeu uma nova edição da Record, e pode ser facilmente encontrado nas livrarias. Próximo passo, seguindo sugestões estarei caminhando para 100 anos de solidão.

As Brumas de Avalon

Em finais de 2009 e início de 2010 eu tive a oportunidade de ler a série As Brumas de Avalon, da escritora americana Marion Zimmer Bradley (1930-1999). De início não esperava grandes novidades, afinal eu já conhecia alguma coisa da história da série (dã, quem não conhece o Rei Arthur *rs), o foco nas personagens femininas, referencias a cultos neo-pagãos e tudo mais, mas... caraca, ainda assim o livro me surpreendeu, e muito! Em alguns momentos a história apresentava, na minha cabeça, alguns conflitos com que eu já conhecia de The Myths and Legends of King Arthur and the Knights of the Arounded Table, famoso disco de Rick Wakeman, ainda assim... uau! Se dúvida o envolvimento de autora nos anos 70 com cultos neopagãos e místicos ajudaram muito a criar uma atmosfera mais rica para a mítica ilha de Avalon apresentada no livro. Dos quatro livros, os três primeiros são perfeitos, o últimos talvez a autore apresente um ritmo mais lento, algo como considerações sobre os acontecidos nos livros anteriores, ainda assim é um belo fechamento para saga. Ah sim, claro! Uma característica da autora que me agradou muito foi a forma como ela consegue, em um mesmo dialogo, expressar a conversa verbal, a conversa gestual e os pensamentos de cada um das personagens envolvidas na cena. Surpreendente!
Ah sim, caso você queira ler a série, saiba que a mesma se encontra em promoção no submarino por meros R$29,90 (não, não estou ganhando comissão *rs)

Eu assisti Yip Man

Seguindo a indicação postada pelo Leo, assiti na semana passada a YipMan, o filme que conta a história do fundador da Hong Kong Ving Tsun Athletic Association, um dos mais famosos representantes do estilo Ving Tsun (ou Wing Chun)de Kung Fu e que, por acaso, fora mestre de Bruce Lee em Hong Kong.

O filme, longe de ser um documentário, é bem fantasioso, focando em um mestre YipMan, casado já na casa dos 30 anos de idade na cidade de Foshan, uma cidade conhecida por sua grande quantidade de escolas de artes marciais. Fiel ao juramento feito a seu mestre, Leung Bik, YipMan era um mestre impar, pois apesar de reconhecido por sua habilidade se recusa a ter qualquer aluno. O tempo corre até que já aos 40 anos, em plena segunda guerra mundial, ocorre a invasão japonesa e YipMan se vê obrigado a abrir mão dos luxos da sua vida para sobreviver com sua família.

O filme lançado em 2008, é dirigido por Wilson Yip e é estrelado por Donnie Yen, ambos desconhecidos do publico ocidental,porém bem conhecidos no mercado asiático. Longe de ser um documentário fiel sobre a vida deste grande mestre, YipMan é antes de tudo um filme de arte marciais, com belas cenas e um roteiro que prende a atenção do espectador do início ao fim.

Uma característica bem marcante das produções chinesas, e que não poderia deixar de faltar em Yip Man, é o forte caráter patriótico, estampado no filme.

Há uma continuação, Yip Man 2: Chung si chuen kei, planejada para estreiar em maio desse ano. Admito nunca ter assistido uma continuação asiática, espero que elas não sigam as linhas das americanas *rs

Ano Novo?

O ano de 2010 chegou sem muitas atualizações aqui no blogue. Não por falta do que postar, mas devido a falta de tempo para preparar as postagens.

Aqueles que andaram acessando o site nos últimos dias notaram diversas mensagens de erro, relativo ao carregamento das imagens do blogue. Isso ocorreu porque diversos caminhos apontavam para a localização original das imagens contidas no template que eu usei como base para a criação do blogue. Pois então, como eu estava com preguiça pelo trabalho que eu teria pela frente(trabalho de fazer o upload das imagens para outro servidor e modificar os caminhos no código do blogue) acabei postergando, postergando, postergando...

Pois bem, eis que finalmente resolvi o problema com as imagens. Espero nos próximos dias escrever sobre algumas novidades que descobri nessas últimas semanas. Estou de férias, tanto do trabalho quanto da faculdade, mas isso ao invés de me propiciar mais tempo para escrever só tem me feito ficar masi tempo afastado do computador, o que no fundo é uma coisa boa, não?